sexta-feira


Que a lembrança de alguém tão querido não se perca no tempo, tenha toda a paz que lhe foi privada nesta vida agora para toda eternidade. Tio Juvenal, um dos últimos amigos de um época que não volta nunca mais.

quinta-feira

RESSENTIMENTO

Procurando algumas ferramentas acabou encontrando uma tira de couro com que amarrava Capito, um pastor alemão que dividiu a maior parte da sua infância. Antes de uma lágrima descer lhe sobre a face atirou longe aquela lembrança amarga, não gostaria de lembrar do dia em que precisou sacrificar algo tão importante na sua vida. O pobre diabo sofria muito, babava sangue e gemia como um condenado depois daquele maldito carro de boi desgovernado passar por cima dele bem em frente de casa. O dono até pediu desculpas, a ladeira era íngreme e acabou soltando dos estribos, poderia ter sido pior, pois meia hora antes, voltavam da escola muitas crianças, inclusive este simplório lenhador, gozando doces aventuras pueris. O chão de cascalho e areia subia uma névoa tamanho a quantidade de pezinhos passando por ali.
Ruffus havia saído cedo de casa, sempre deixava seu cão preso neste pedaço de couro que o tio Serafim havia feito para ele quando soube que o irmão ia presentear no sétimo aniversário de seu sobrinho. Ruffus dava um nó bem forte mas folgado o suficiente para não machucar, o bicho sabia que não ia cortar de jeito nenhum, e descansava enquanto o dono saía para alguma coisa. Ao voltar, Capito sabia que ia correr, cagar, destruir, pular e sujar tanto quanto pudesse, até ser preso de novo. Seu dono era bem incisivo ao querer algumas coisas, principalmente a liberdade de seu animal de estimação.
Depois de horas a fio esperando um veterinário, decidiu sacrificar o animal. Era dor demais para esperar tanto tempo. O bicho parecia até falar "me tira daqui", "não aguento mais", "por favor"... Uns dois dias depois aparece um senhor, bem distinto, cheirando a rosas com uma maleta na mão. Era o veterinário pedindo desculpas por não ter vindo antes, estava ocupado com o parto de uma mula e por isso se atrasou. Perguntou onde estava o cão. O garoto foi aos fundos da casa, amarrou a tira de couro nos punhos de ossos e pele e voltou a sala. Foi um dos melhores socos que já deu na sua vida.